sexta-feira, janeiro 08, 2010

Ganha-se muito, trabalha-se pouco ... é só praias e lagostas.

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Desenganem-se aqueles que pensam desta forma sobre Angola.

PRIMEIRO,  não se ganha assim tanto comparado com os salários nos países de origem, principalmente se forem europeus qualificados. O tempo das vacas gordas, com ordenados brutais, pagos em dólares e depositados fora de Angola, já era. Outra prática em vias de extinção, são as férias/viagens pagas 3-4 vezes/meses por ano (genéricamente reduziram-se para metade). Por outro lado o custo de vida e as dificuldades de habitabilidade (casa, trânsito, burocracias, compras correntes, serviços básicos ...) estão piores ou na mesma. Resumindo ,  ganha-se menos do que se pensa , gasta-se bem mais do que  imaginamos e há menos férias pagas que noutros tempos.

SEGUNDO, trabalha-se mais que nos países desenvolvidos e produtivos. A generalidade dos expatriados tem uma elevada carga horária de produção (pouco produtiva quando dependentes de outrém ) entre 10h-12h, sobrecarregada com mais 2-4 horas perdidas nas deslocações. Por razões de trânsito entra-se muito cedo (5h-7h da manhã) e por razões profissionais (inclusivé, pelos constantes atrasos no cumprimento de horários de reuniões e trabalhos de equipa) sai-se tarde,. Resumindo, o tempo livre para gozo pessoal efectivo, é quase inexistente durante os dias úteis de trabalho. Felizmente que o fim-de-semana é sagrado para os africanos , pelo que os expatriados podem "esquecer" forcings de trabalhos extraordinários no escritório/estaleiro, durante esse dois dias.

TERCEIRO, além das praias, dos passeios, dos restaurantes e discotecas para repôr energias e/ou desanuviar, a oferta de lazer é escassa, e limitada.  Os melhores sites , ou são longe ou estão lotados ou são estúpidamente caros. Mesmo nos fins-de-semana perde-se muito deste tempo pessoal e precioso nas deslocações (longas e/ou com trânsito), nas compras (de bens essenciais como no supermercado), nas falhas de serviços básicos (água, electricidade, ...) ... e até para actos tão simples como arranjar gasolina (para carros e geradores) nos poucos postos, por vezes sem o tipo de combustivel que precisamos e sempre com filas (esperas inferiores a uma hora, são raras).

Este post tem o propósito de avisar (quem conhece pouco e vai atrás de promessas) e mentalizar (quem já ouviu falar mas não acredita).  Se pretende trabalhar uns tempos em Angola, por conta de outrém,  e pensa que é muito compensador, pouco complicado, uma balda no dia-a-dia, uma aventura curtida, uma África dos postais e das reservas naturais ... vai dar-se mal.